sábado, 19 de janeiro de 2013

Capítulo II

O segundo capítulo já está disponível: compre na amazon.

Este é o segundo capítulo do romance “As Crônicas Élficas”. Este livro será publicado como um folhetim, capítulo a capítulo, conforme vai sendo escrito pelo autor.

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Escondida no núcleo oculto da Grande Floresta da Daláquia, a Árvore Ascônica permanecera por incontáveis fora do alcance da vista dos mortais. Mesmo se algum estrangeiro pudesse atravessar a névoa mágica da Grande Ocultação e penetrar desavisadamente na Floresta, apenas os elfos que haviam nascido sob a proteção dos ramos da Árvore da Vida seriam capazes de encontrar o caminho secreto através do labirinto de incontáveis trilhas, através de matas tão densas que nenhuma luz ali jamais penetrara, até o coração da República. Do tronco antiquíssimo e imenso projetavam-se inúmeros galhos e ramos menores por milhas e milhas em todas as direções, atingindo tal atitude que chegava mesmo a encobrir algumas montanhas mais baixas, e lançava suas raízes até as profundezas do mundo, de onde aprendera os segredos das pedras que haviam testemunhado a própria Criação.

Uma poderosa Vontade habitava cada fibra e folha da Árvore, pois ela brotara do túmulo lacônico da Rainha Ascônele há muitos milênios como um bastião de esperança e fé para seu povo órfão e exilado. De fato, os elfos do clã Ascônico criam que o espírito de sua rainha permanecia vivo na Árvore, e era a esse espírito que os elfos dirigiam suas orações noturnas, em busca de conselhos que os guiassem em suas dificuldades, embora poucos pudessem discernir no farfalhar das folhas e estalar das madeiras a resposta desejada. Não obstante, todos podiam sentir o toque acolhedor dos ramos mágicos e ver em seus lentos movimentos ao longo dos séculos o propósito de protegê-los dos perigos e supri-los em suas necessidades.

Para cada elfo nascido sob a sombra da Árvore Ascônica, havia um recanto entre os galhos especialmente preparado para abrigá-lo, formado naturalmente e de tal maneira adaptado a cada um que os elfos do exílio sempre tinham moradas confortáveis à sua disposição e nunca precisavam erguer laboriosamente casas de pedra ou tijolos. A arte da construção não havia sido completamente esquecida, contudo, pois alguns dos mais antigos dentre aquele povo ainda lembravam-se das histórias sobre os imensos palácios cobertos de mármore e ouro de seus ancestrais, e a cada século adornavam sua Cidade Memorial, erguida nos limites da área sob a Árvore, com um novo edifício ou monólito comemorativo, embora tal Cidade jamais tenha sido habitada, tendo permanecido sempre com uma utilidade meramente cerimonial, e muitas de suas construções já se encontrassem em ruínas e assombradas. (...)

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Primeiro Capítulo Disponível!

Este é o primeiro capítulo do romance “As Crônicas Élficas”. Este livro será publicado como um folhetim, capítulo a capítulo, conforme vai sendo escrito pelo autor.

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 Segue trecho da obra abaixo:

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A Primavera Gloriosa finalmente chegava à Grande Floresta da Daláquia. O disco solar, a tanto tempo ocultado pelas gélidas emanações invernais, enfim erguia-se em sua ascensão flamejante, lançando infinitos raios, ainda débeis, mas já capazes de penetrar a espessa camada de névoa e atingir os flocos de neve acumulados nos ramos das árvores. Ao passar através de tais estruturas de água cristalizada, a luz amarelada decompunha-se em uma miríade de cores e padrões de luminosidade variável, como se atravessasse o prisma descrito por Sir Isaac Newton em seus estudos seminais sobre o fenômeno da refração.

Talvez pareça despropositada, caro leitor, a referência ao nome de tão famoso cientista nesta obra que pretende (desde o título) narrar a história de elfos, dragões, quiçá fadas, magos e outras criaturas mais pertinentes ao reino da Fantasia que da Ciência. Assim, para evitar que ulteriores questionamentos interrompam o fluxo contínuo de nossa narrativa, peço licença para uma breve explanação do assunto. É que embora este humilde narrador reconheça o abismo ontológico intransponível que separa a ficção da realidade, também reconheço que existe um conjunto de regras que rege necessariamente a ambos os mundos.

É por isso que tudo o que conhecemos sobre a realidade bem se aplica ao universo ficcional no qual a Grande Floresta da Daláquia está situada, e nada há que nos impeça de falar de leis da física ao tentar transmitir ao leitor a incrível beleza produzida pelo espetáculo de infinitas cores que iluminava a floresta naquela manhã. Nada também nos impedirá de aludir às teorias econômicas ou psicanalíticas para que possamos descrever os comportamentos dos povos e indivíduos da errante Nação Élfica. Simetricamente, paira sobre nosso próprio mundo um grande Talvez, ineludível e maravilhoso: o de que algo da magia desses seres fantásticos possa de fato habitar furtivamente em nossas vidas; de que a fria lógica dos átomos que impera em nossa cosmovisão possa esconder algo da camada secreta e milagrosa do Mito.

Apenas através dessa pequena porta, dessa fissura mantida aberta por um Talvez, é que podemos vislumbrar o mundo que pretendo apresentar nas próximas páginas, e apenas atraves dessa porta poderão os personagens que representam o drama a seguir nos tocar de alguma forma. Feche essa porta por sua própria conta e risco, caro leitor. Sinto informar-lhe que o ceticismo completo implica na completa ausência de sentido.

É claro que alguém como a elfa Maranele – sim, uma elfa! – que esteve exposta ao cansaço e ansiedade por incontáveis dias de fome e frio, não perderá seu tempo considerando as inúmeras possibilidades de encontro entre o real e o fantástico, nem será capaz de admirar a infinita beleza das cores oscilando lentamente com o periódico movimento dos ramos balançantes dos pinheiros e com o vagaroso degelo do orvalho aquecido pelos raios solares. Sempre que uma mínima fresta de porta se abre para que percebamos a poesia da Magia que domina o mundo onírico, ao mesmo tempo permite que a inexorável brutalidade de nosso olhar penetre no coração dos habitantes de nossos sonhos.

Para a jovem caçadora – se podemos falar em juventude no que concerne uma raça destinada à eternidade – nada mais existia além da Caça, e a caça em última instância se resume a uma encenação da Morte, embora seja também uma celebração da Vida. (...)